Com o ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil, após mais de 15 anos sem causar epidemias no País, Pernambuco já aciona equipes de vigilância para detecção precoce da circulação viral e o monitoramento dos sorotipos circulantes de dengue e de outras arboviroses.
Nesta terça-feira (21), a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) lança uma estratégia para guiar as ações estaduais para controlar as arboviroses: o Plano Estadual de Contingência das Arboviroses 2024. O documento detalha o cenário epidemiológico de dengue, zika e chicungunha, além de apresentar atividades que devem ser desencadeadas ou intensificadas para o enfrentamento dessas doenças em caso de epidemia.
Neste ano, em Pernambuco, até 11 de novembro (semana epidemiológica de número 45), foram registrados 8.677 casos prováveis de dengue e 2.708 de chicungunha, o que representa queda de 41% e 83%, respectivamente, em comparação com o mesmo período de 2022.
Desse total de casos prováveis, foram confirmados 2.876 de dengue e 773 de chicungunha. Até o momento, não foram confirmados casos de zika no Estado.
O Plano Estadual de Contingência das Arboviroses 2024 será apresentado, na manhã desta terça-feira (21), na sede da SES-PE, no bairro do Bongi, Zona Oeste do Recife.
O Estado tem um clima bastante favorável à proliferação do vetor, o Aedes aegypti. As chuvas constantes e temperaturas elevadas tornam-se os fatores perfeitos para reprodução do mosquito. Essa combinação se intensifica no verão, que começa oficialmente no dia 22 de dezembro.
A principal forma de prevenção contra os arbovírus (dengue, zika e chicungunha) é não deixar o Aedes aegypti nascer. Para isso, é preciso a adoção de medidas para evitar a proliferação do mosquito. Entre eles, manter bem vedados caixa d’água, baldes e demais recipientes para armazenamento de água.
“Esses cuidados precisam ser reforçados com mensagens para a população. O próximo ano (2024) será muito preocupante. Com a passagem do El Niño (fenômeno sazonal responsável por promover um aquecimento atípico das águas do Oceano Pacífico equatorial), o período de estiagem vai se intensificar, o que vai fazer a população acumular maior quantidade de água”, salienta o diretor-geral de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES-PE, Eduardo Bezerra.
“Prezamos por antecipação das orientações aos municípios. Por isso, o plano de contingência já está sendo lançado, para que os gestores tenham tempo oportuno para trabalhar na prevenção das arboviroses. Ainda não temos a detecção do sorotipo 3 do vírus da dengue em Pernambuco, mas isso é questão de tempo. Estamos, então, em preparação para combater possíveis surtos”, destaca Eduardo.
O gestor diz que, por ora, os municípios não receberão recursos extras para enfrentamento à dengue, chicungunha e zika. “Mas se houver epidemia, será avaliada a necessidade de repasse financeiro.”
Diferentemente do Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, o Nordeste não tem registrado aumento significativo nas notificações de casos de dengue e demais arboviroses.
O infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), comenta por que Pernambuco e demais Estados da região continuam a apresentar um cenário de calmaria em relação a arboviroses. Segundo Chebabo, a explicação pode estar no fato de boa parte da população da região ter ficado imunizada após o período de tríplice epidemia (dengue, chicungunha e zika) vivido nos anos de 2015 e 2016.
Por outro lado, o infectologista diz que o panorama de calmaria na região sinaliza um maior risco de ressurgimento de surtos decorrentes do sorotipo 3 do vírus da dengue.
A questão é que a circulação de um tipo de dengue, há tanto tempo ausente, preocupa os especialistas. Eis a razão: o risco de uma epidemia com o retorno do sorotipo 3 ocorre por causa da baixa imunidade da população, já que poucas pessoas foram infectadas por esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos 2000.
Vale explicar que o vírus da dengue possui quatro sorotipos. A infecção por um deles gera imunidade contra o mesmo sorotipo, mas é possível ser infectado novamente se houver contato com um sorotipo diferente.
Existe ainda o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente, por outro sorotipo.