No segundo semestre de 2021, a equipe do Hospital Pequeno Príncipe, unidade referência em pediatria no País localizada em Curitiba, começou a notar um aumento expressivo no número de crianças e adolescentes que chegavam à emergência da unidade com um quadro, até então, raro no hospital: esses jovens pacientes, alguns ainda na infância, estavam chegando ao hospital após tentarem suicídio. Em 2022, esse cenário piorou e o volume de casos do tipo atendidos no centro médico triplicou ante 2019. Chamou a atenção dos profissionais a idade cada vez menor das vítimas: quase 70% delas tinham 14 anos ou menos.
“Passamos a ver cada vez mais precocemente uma condição mental de maior fragilidade. Nos últimos três anos, tornou-se mais frequente atendermos pré-adolescentes que tentaram suicídio”, afirma Marianne Bonilha, psicóloga do hospital. A pediatra Luci Pfeiffer, coordenadora do programa Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Dedica), iniciativa ligada ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também observou maior frequência de casos do tipo entre os pacientes do programa que coordena. Nos últimos tempos, começou a ver tentativas de suicídio em crianças de menos de dez anos.
A comerciante Cynthia Monique da Costa foi uma das mães que viveram essa dor: perdeu a filha de 13 anos, vítima de suicídio, em maio de 2021, dentro de casa, no Rio. A família não havia observado mudança significativa de comportamento, mas, após a morte, a mãe descobriu que ela vinha verbalizando para amigos os pensamentos suicidas. “Ela não deu sinais claros para a família, mas, sim, para alguns amigos. Por isso, digo que devemos ensinar nossos filhos a identificar um amigo que esteja nessa situação porque isso faz com que possamos ajudá-lo”, diz. (leia sobre a história de Cynthia aqui).
Fonte: Estadão