“Sem orçamento, a política é só um discurso” – disse a vereadora do Recife, Liana Cirne em novembro passado quando a Câmara discutia o Orçamento da capital para 2025, finalmente aprovado com o valor de R$ 9,2 bilhões. A vereadora chamava a atenção dos colegas para a importância que tem a máquina pública para a política e para os cidadãos que dela se beneficiam através de obras e ações. Em paralelo, nesta mesma época, a Assembléia Legislativa aprovava o Orçamento do estado fixado em R$ 56,6 bilhões.
Esses números voltam a entrar em discussão sobre a força que terão o prefeito João Campos e a governadora Raquel Lyra neste momento crucial de preparação para a eleição de 2026 quando os dois devem se confrontar. Apesar do Recife ter fechado o ano com um déficit primário de R$ 475 milhões, revelado esta semana pela Prefeitura ao prestar contas do ano de 2024, e do estado ter tido, ao contrário do Recife, um superávit de R$ 1,2 bilhões, fica claro que tanto um quanto outro – ela bem mais do que ele – terão força para executar obras capazes de ajudar no convencimento da população que vai às urnas em 26.
Aumento de 25% de cargos comissionados na PCR
Mas há duas pedras no caminho a serem consideradas: os índices de aprovação de suas administrações, no momento beneficiando o prefeito que foi reeleito com mais e 70% dos votos da capital, e a disposição da classe política para sair à cata de votos de apoio na Região Metropolitana e no interior. A governadora, neste caso, partiu na frente, elegendo mais de 120 dos 184 prefeitos estaduais em 2024 mas passou a contar com outro desafio que é o índice de intenções de votos de João Campos em todo o estado após a retumbante vitória no Recife.
Mesmo com a preferência popular que tem até o momento e uma comunicação exemplar nas redes sociais, João Campos esqueceu as críticas que viriam e, apesar do déficit nas contas públicas, aumentou em 25% os cargos comissionados da Prefeitura em uma reforma administrativa que ampliou o número de secretarias e criou gabinetes cujos titulares têm nível de secretários, passando a beneficiar vereadores que perderam eleição e prefeitos do interior que também não tiveram êxito nas urnas. O objetivo é tentar compensar a falta de líderes políticos no interior para fazer sua campanha, coisa que a governadora terá em número exponencialmente maior.
Encontro com Miguel e nomeados na RMR e interior
Já Raquel não ficou atrás. Teve um encontro com o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho, do qual estava afastada desde 2023 e avessa a aproveitar a classe política em sua administração – “parecia que estava governando a Suiça” disse esta semana a este blog um deputado de linha independente – a governadora autorizou o seu secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça, a começar a se livrar do grande volume de currículos que vinha acumulando nos computadores palacianos enquanto centenas de cargos comissionados esperavam ser preenchidos desde janeiro de 2023, quando a governadora tomou posse.
Em um só dia foram nomeados 22 ex-prefeitos como assessores da pasta. No dia seguinte o Diário Oficial registrou mais 15 nomeações sendo sete de ex-prefeitos e as demais de vereadores incluindo quatro do Recife que foram bem votados e terão agora a missão de serem olhos e ouvidos do Palácio em suas bases. Da mesma forma os ex-prefeitos terão a missão de acompanhar as obras e serviços do estado no interior e dar munição à governadora para agir na ampliação de suas bases.
Reação imediata
A providência teve efeito imediato nos corredores e gabinetes da Assembléia Legislativa – “ agora a coisa vai”, respirou aliviado um deputado governista. Afinal, nos últimos dias, corriam na Alepe prognósticos preocupantes sobre 2026, com deputados da própria base já admitindo que a batalha ficaria muito dificil se não houvesse, de imediato, uma reação. Diziam que, mesmo sem obras no interior e sem apoio político, João Campos estava conseguindo crescer no meio do povo por conta das redes sociais.
Sobre a postura da governadora e do prefeito, o cientista político Antonio Fernandes diz que “este é um procedimento comum no Brasil e também em Pernambuco. Sempre que termina uma eleição a tendência é aproveitar na máquina aliados que não se saíram bem no pleito. Está claro que os dois têm o objetivo de ampliar os espaços políticos e as ações visam, de um lado e do outro, acomodar pessoas visando 2026. Quanto à governadora ela precisa pensar também em acomodar outras peças que são os deputados estaduais que servem de ponte entre o estado e os municípios. Na hora em que beneficia uns se não cuidar do todo acaba por prestigiar uns em detrimento de outros e isso não é aconselhável”.
Na verdade, já há uma ciumeira de deputados estaduais que se queixam de que Raquel está indo direto aos prefeitos. Não só os recebe sem que estejam necessariamente acompanhados de deputados, como as nomeações não eram do conhecimento dos parlamentares. Lembram que quando se elegeu governador derrotando Arraes por 1 milhão de votos, Jarbas Vasconcelos tinha poucos prefeitos enquanto estavam com Arraes mais de 100 exibidos como troféus pelo PSB antes da derrocada nas urnas.
Fonte: Jornal do Commercio