“O cara que trabalha com política é cruel”, foi o que disse uma das pessoas ouvidas para esta reportagem, ao ser perguntada se já havia presenciado o crime eleitoral de compra de votos em troca de alimentos, em algum momento da vida. No relato, o homem, que preferiu não ser identificado, informou ter vivido a infância inteira em Meruoca, no Sertão de Sobral. Morava em uma casa de taipa, localizada em um bairro de classe baixa, esquecido pelo resto da cidade. Ou quase esquecido.
No período eleitoral, eram constantes as visitas de políticos, que chegavam oferecendo itens como “telhas” e “cestas básicas” em troca de votos. “Eram coisas simples, mas que as pessoas não tinham e muito por conta dos próprios políticos. Mas a gente não fazia essa associação. A pessoa que não tinha nada, mas passava fome, se o político desse uma cesta básica, ela votava nele. Achava que era uma pessoa boa”, relata.
Apesar de lamentar a situação, em todo o relato ele não repreende os eleitores que aceitam os “acordos”, especialmente em troca das cestas. O motivo é a imagem da própria mãe, preparando a comida diária. “Era farinha com açúcar, porque enchia. Eu nunca passei fome, mas já vi minha mãe dormir com fome para que a gente não passasse por isso. Nunca vou esquecer. A fome te obriga fazer qualquer coisa, ela dói”.
Fonte: O Povo