A força de Marília

Por Edson Barbosa*

Marilia Arraes obteve 41.3% dos votos para governadora de Pernambuco nas eleições do último domingo. Cravou dois milhões e 100 mil votos nas urnas. Venceu amplamente as eleições no Sertão e na maioria dos pequenos municípios pernambucanos.

Ganhou em médias cidades importantes, como Araripina, Ouricuri e Salgueiro, e na periferia de quase todo canto. Ganhou entre os mais pobres. Esse foi o mantra da sua campanha: combater a fome e a miséria, cuidar dos que mais precisam.

Marcou território em Petrolina, a cidade mais poderosa do Rio São Francisco, onde empatou a eleição enfrentando os Coelho, os Ramos, Patriota e os bolsonaristas de todos os matizes.

Raquel Lyra venceu nas principais cidades do Agreste (Caruaru – onde governou por seis anos – Garanhuns, Santa Cruz do Capibaribe – o maior reduto de Bolsonaro em Pernambuco), Vitória de Santo Antão, Bezerros, Gravatá. Mas, principalmente, na Mata, na Região Metropolitana e no Recife.

Foi nesse território onde Raquel conquistou a vitória. E ganhou porque quase todas as composições políticas que Marília derrotou no primeiro turno se uniram contra ela no segundo. Contou muito nessa disputa a morte trágica, indesejada, do jovem Fernando Lucena, esposo de Raquel. Mas isso é o mistério da vida e, em nome da minha família, peço a Deus que conforte e ilumine todos os familiares e amigos de Fernando.

Raquel e Priscilla Krause (sua escudeira maior) juntaram o apoio do esquema de Bolsonaro em peso, dos setores econômicos poderosos, dos ressentimentos e contradições de sempre do PT local com Marília (Lula só veio ao Recife quinze dias depois de reiniciada a campanha, muito por conta da má vontade dos dirigentes petistas no Estado, que preferiam a neutralidade de Lula na disputa pernambucana). É assim a política.

Marilia resistiu e avançou, grávida de sete meses, lutando por Lula e naturalmente pela sua vitória. Penso que saiu bem maior do que entrou. O apoio fictício do PSB foi o seu cavalo de Tróia. A associação da sua imagem a Paulo Câmara, o abraço da morte. A versão do  apoio desse conjunto, soprado pela imprensa, e a foto de Lula levantando o seu braço lado a lado com o primo João Campos, jogou no colo de Marilia a rejeição do eleitorado ao PSB e a Paulo Câmara, com seus 70 por cento de reprovação.

A campanha de Raquel, sejamos justos, soube aproveitar-se da armação. Enquanto isso, o jogo pesado empurrava a máquina do governo para o colo de Raquel.  À luz do dia, Paulo Câmara assinava autorizações milionárias de serviço para prefeitos do PT, do PSB e de outros partidos,  e logo em seguida os mesmos se dirigiam ao comitê da adversária para declarar apoio eleitoral. A carga foi muito pesada.

Mas mesmo assim, o povão não abandonou a candidata. Os 2.100.000 votos de Marília em Pernambuco, no segundo turno, foram os mesmos 2.100.000 votos da diferença entre Lula e Bolsonaro, em todo o Brasil. Não é pouca coisa.

Esse capital político foi construído por Marilia, ao lado de André de Paula e Sebastião Oliveira. A alquimia entre os três funcionou. Mesmo com a derrota eleitoral, essa unidade, sendo mantida, pode ter grande importância política em Pernambuco, fazendo surgir um novo campo de força, desde quando amplie as alianças e mantenha viva a chama da coligação Pernambuco na Veia.

A tarefa que se impõe agora é essa. Reunir a base e partir firme para participar da ação do novo Governo Federal em Pernambuco e defender, mesmo que na oposição ao Governo do Estado, as propostas da campanha.

As casas das mulheres pernambucanas, o investimento de um bilhão de reais de dinheiro azul e branco, em 2023, para enfrentar a fome, a implantação do mais médicos Pernambuco, a moeda social, a redução do Ipva, a cultura popular, a reativação do pacto pela vida, as maternidades em todas as cidades, o governo da primeira infância, a educação em tempo integral, o Projovem Pernambuco, a saúde na palma da mão e o projeto restaurar, na saúde, tecnologia avançada e internet de qualidade para todos os municípios, entre outros, e, sobretudo a defesa radical de Lula Presidente, são marcas que ficaram na cabeça e na esperança das pessoas que votaram em Marília Arraes.

Não podem ser apenas palavras esquecidas ao vento. Marília mostrou que tem visão de futuro, conhecimento dos problemas do Estado e liderança, capacidade de diálogo e firmeza política para cuidar dos que mais precisam. Amadureceu muito na batalha da vida. Lula sabe quem verdadeiramente esteve com ele. E sabe quem apenas se aproveitou do seu prestígio e da gratidão que o povo pernambucano lhe devota. É só olhar o mapa da votação em Pernambuco e fazer as contas.

Marilia tem a força da mulher de coragem, que aprendeu a enfrentar obstáculos. Foi a campeã de votos do povo do Sertão, dos menores municípios, da periferia, da maioria que tem menos acesso às políticas públicas e às oportunidades do mercado. Mas, como me disse um sábio sertanejo, “…em política não tem bem querer. Tudo é luta e conquista”. Acho que também é verdade, empatia, humildade, reconhecimento, amor e paciência; o tempo ensina assim.

Contribuí na comunicação da campanha de Marília Arraes para governadora de Pernambuco. Foi extraordinário testemunhar mais uma vez uma proposta carregada pelas mãos do povo, escutar jovens e adultos, homens, mulheres e pessoas revelando e assumindo identidades diversas, com um brilho verdadeiro de esperança no olhar.

Tive o privilégio de mais uma vez enfrentar adversários qualificados e bem postos na condução dos seus objetivos de comunicação eleitoral em Pernambuco, essa escola superior de luta e ciência política. Em 1998, me senti ganhando, mesmo perdendo a eleição com Miguel Arraes; em 2006 e 2010, ganhei ganhando, com Eduardo Campos; em 2014 um avião explodiu e mesmo ganhando aquela eleição, foi como se tudo parasse no tempo.

Agora em 2022, mesmo perdendo a eleição com Marília, tenho a esperança de que as raizes do pensamento de Arraes estejam vivas e sejam mais solidamente preservadas e praticadas. Com a vitória de Lula presidente, a esperança se renova mais uma vez.

Pernambuco, como sempre, deu mais uma lição de pioneirismo político, elegendo, pela primeira vez, e ao mesmo tempo, as primeiras governadora e senadora da sua história.

Parabéns e meu respeito ao time que ganhou.

*Jornalista, publicitário e coordenador de comunicação da campanha de Marília Arraes ao Governo de Pernambuco.

Fonte: Magno Martins

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