Por mais que a governadora Raquel Lyra (PSDB) busque apoios e leve o consenso da bancada federal até o presidente Lula, Pernambuco não vai conseguir mais recuperar o trecho de Salgueiro, no Alto Sertão, até o porto de Suape, na Região Metropolitana, incluído no projeto original da ferrovia Transnordestina.
Dono da Transnordestina Logística S.A, concessionária da ferrovia, o empresário Benjamin Steinbruch celebrou um novo aditivo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Governo Federal, no qual desistiu do trecho Salgueiro-Suape. Concluiu ser inviável, do ponto de vista econômico e financeiro, a construção e a operação do ramal pernambucano da ferrovia.
Mas nem tudo está perdido. A salvação da lavoura vem de uma proposta do Grupo mineiro Bemisa, um dos maiores do País em exploração e exportação de minérios. A ANTT aceitou o aditivo que permitirá o destravamento das obras, iniciadas em 2006, mas a nova ferrovia passa a se chamar Transertaneja, sem qualquer relação com a Transnordestina e custará R$ 5,7 bilhões.
Na operação da nova ferrovia, a Bemisa exercerá o direito de passagem entre Eliseu Martins e Salgueiro. Diante disso, resta saber o seguinte: a Bemisa tem, na verdade, os R$ 5,7 bilhões em caixa para executar o projeto? Se tiver, faltaria apenas a concessão do Governo, o que dependeria só da vontade do Governo Federal.
Se não tem essa dinheirama em caixa, o caminho será mais complexo, porque em se tratando de um novo projeto, uma espécie de PPP (Parceria Público Privada), a Bemisa teria quer recorrer ao BNDES, que lá atrás, no projeto original de Benjamin, já financiou praticamente tudo o que foi investido, abandonado.
Vai bombar o Ceará – O Grupo CSN, liderado por Benjamin Steinbruch, decidiu privilegiar o trecho de Elizeu Martins a Pecém, porque ele é muito bom para a economia do Ceará, relata o jornalista Fernando Castilho. Segundo ele, o próprio foco da CSN mudou, pois ela tem planos de implantar um grande, moderno e sofisticado Centro de Recebimento e Distribuição de cargas sólidas e líquidas no Ceará. Para Pernambuco, a construção da nova ferrovia entre o Piauí e Pernambuco como uma alternativa à Transnordestina, iniciada em 2006, resolve um impasse por força de sucessivos atrasos na obra, a cargo da TLSA, empresa responsável pela concessão do serviço.
Bemisa banca sozinha – Em entrevista, ontem, ao Frente a Frente, o deputado Augusto Coutinho (Republicanos), coordenador da bancada federal, disse que discutiu com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) como se daria o novo projeto da ferrovia. Segundo o parlamentar, o Grupo Bemisa é muito sólido financeiramente e teria amplas condições de bancar a nova ferrovia, porque sua operação econômica no transporte de minerais se daria pelo porto de Suape.
Na agenda de Rui – O senador Humberto Costa tem agenda com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para tratar da Transertaneja. “O nosso compromisso, na conversa que assumimos com a governadora, é cerrarmos fileiras contra essa ideia de privilegiar o roteiro que vai até o Porto de Pecém em detrimento do roteiro que vai até Suape”, disse. Segundo ele, no encontro com Rui Costa, o assunto será abordado com mais detalhes, inclusive com a ressalva de que os erros do passado são de responsabilidade do ex-presidente Bolsonaro.
Pressão no BC – A cúpula do PT endureceu o discurso contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em reunião, ontem, o Diretório Nacional do partido aprovou uma resolução que orienta as bancadas petistas na Câmara e no Senado a convocar Campos Neto para que ele preste esclarecimentos ao Congresso sobre o motivo de manter os juros altos. Dirigentes do PT não apenas endossam a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Banco Central para reduzir a taxa básica de juros (Selic), hoje em 13,75% ao ano, como avaliam que é preciso pregar a reorientação da política monetária e da meta de inflação.
Bancada da arma – O ministro da Defesa, José Múcio, recebeu, ontem, deputados bolsonaristas interessados em discutir a situação dos presos que participaram, financiaram ou fomentaram os atos terroristas de 8 de janeiro e as limitações impostas pelo governo federal aos CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores). Integrante do grupo, o deputado pernambucano Coronel Meira (PL) reclamou das prisões generalizadas, afirmando que foram generalizadas. “Sabemos que esse é um tema político e que devemos ter sensibilidade para resolver essa questão humanitária, haja visto as condições precárias em que se encontram essas pessoas”, disse Meira.
CURTAS
IMEXÍVEL – Para Gleisi Hoffmann, presidente do PT, embora o Banco Central tenha autonomia, ninguém é imexível no cargo. “Nós queremos que ele (Campos Neto) vá ao Congresso para explicar o que está acontecendo e tentar justificar essa política, que acho injustificável, e ter sensibilidade para mudar sua posição. Nós queremos ter crescimento e emprego no Brasil, e não recessão”, afirmou.
SEM PROPÓSITO – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também compareceu à reunião do PT e disse que os juros no Brasil são totalmente “fora de propósito”. Em uma exposição de aproximadamente 40 minutos, ele afirmou que em nenhum país do mundo esse patamar é tão alto.
Perguntar não ofende: Cadê a baixa dos combustíveis prometida por Lula?
Fonte: Magno Martins