Até onde trabalhar demais é vantajoso? Após o diagnóstico, o apresentador fechou a agenda, cancelou programa de viagem para os EUA e focou em tratamento espiritual
Com duas empresas, curso, podcast e gravações para TV, Yudi Tamashiro não se surpreendeu ao descobrir que o aperto no peito e no estômago, entre outros sintomas, eram sinais de burnout. O apresentador foi diagnosticado com a doença após ir à emergência médica no mês passado.
Embora Yudi já tenha tido episódios de irritação e impaciência antes, desta vez foi diferente. “Foi a primeira vez que senti um desespero tomando conta de mim”, disse ele. “Eu já tive várias vezes, irritações grandes, de não querer escutar ninguém. Se vier falar comigo, só venha com solução porque senão, eu explodo”. No entanto, desta vez, ele chegou a um ponto em que não conseguia mais lidar com a pressão e o ritmo acelerado de seu trabalho.
“Com o lado espiritual, eu conheço os meus erros, é questão de querer abraçar o mundo. Então, acredito que agindo dessa forma [equilibrando trabalho, vida social e descanso], eu vou ter mais segurança”, defende Yudi.
A gestora de carreira, especialista em PNL e terapeuta, Madalena Feliciano, explica que o burnout é uma doença ocupacional que afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo. É caracterizado por um estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso e pode levar a exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. No Brasil, uma pesquisa realizada em 2019 pelo International Stress Management Association (Isma-BR) revelou que 32% da população economicamente ativa do país sofreu com o problema.
Uma pesquisa recente do Slack descobriu que o burnout está aumentando globalmente. Essa condição pode afetar pessoas em todas as áreas profissionais, desde profissionais da saúde até trabalhadores de escritório. A pressão constante para atender as demandas do trabalho, cumprir prazos e manter o desempenho pode levar a uma sobrecarga que, se não gerenciada adequadamente, pode levar ao burnout.
Madalena Feliciano destaca que os impactos do burnout vão além do indivíduo – muitas vezes, a condição pode afetar negativamente a equipe e a empresa como um todo. Funcionários que sofrem de burnout podem ter um desempenho abaixo do esperado, faltar ao trabalho com mais frequência e até mesmo deixar o emprego. Além disso, a empresa pode enfrentar custos com licenças médicas, contratação e treinamento de novos funcionários devido ao aumento da rotatividade e perda de produtividade.
O estresse no trabalho é comum, mas o esgotamento profissional é uma condição séria que pode afetar tanto a saúde quanto a carreira de uma pessoa. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficialmente reconheceu o burnout como um diagnóstico médico e o incluiu na Classificação Internacional de Doenças. O burnout é caracterizado como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.
Para ser diagnosticado com burnout, a pessoa deve apresentar quatro sintomas principais: exaustão emocional, cinismo ou despersonalização, sentimento de ineficácia e redução da realização profissional. Esses sintomas podem afetar a qualidade de vida, o bem-estar mental e a produtividade.
Muitas pessoas encaram o esgotamento como uma forma de estresse e tentam superá-lo da mesma maneira, mas na verdade, não são a mesma coisa. A fadiga que acompanha o esgotamento é diferente do estresse que pode surgir após um longo dia ou semana de trabalho. De fato, a fadiga pode ser tão incapacitante que impede as pessoas de realizar suas tarefas diárias. E embora ainda haja debate sobre a frequência do esgotamento profissional, a condição é real e pode afetar qualquer pessoa.
Uma pesquisa realizada pela Gallup mostrou que simplesmente trabalhar menos não é suficiente para reduzir o estresse, melhorar o bem-estar ou prevenir o esgotamento. Embora seja parte, não é toda a solução. A Gallup descobriu que a chave para prevenir o esgotamento é como os funcionários experimentam sua carga de trabalho, o que tem um impacto mais forte no esgotamento do que o número de horas trabalhadas. Além disso, quando se trata do bem-estar geral, a qualidade da experiência de trabalho é duas a três vezes mais importante do que o número de dias ou horas trabalhadas. Em outras palavras, o que você faz durante o horário de trabalho é o que realmente importa, de acordo com a análise da Gallup.
O principal sintoma do esgotamento é a exaustão na forma de uma fadiga profunda que não é curável com descanso ou folga. Então o que deve ser feito para combater o burnout? Madalena Feliciano cita algumas dicas:
Para empresas
As principais causas de esgotamento no trabalho são: tratamento injusto, carga de trabalho incontrolável, falta de clareza do papel e falta de comunicação e apoio de um líder. A qualidade de um líder define a base para todas as outras causas. Os líderes são defensores dos membros de sua equipe, abordando injustiças, ajudando a gerenciar prioridades e esclarecendo expectativas. Na maioria dos casos de esgotamento, as pesquisas descobriram que faltava um bom líder.
Prevenir o burnout é a melhor maneira de evitá-lo, pois a recuperação pode levar tempo e prejudicar a carreira do funcionário. Para a prevenção, indica-se as empresas cinco ações iniciais:
- Certifique-se de que todos conheçam seus pontos fortes e use uma estratégia baseada neles para criar uma cultura de autodesenvolvimento.
- Remova líderes abusivos, pois eles são o maior risco para a força de trabalho.
- Melhore as habilidades dos líderes para que possam se tornar treinadores e especialistas em estabelecer metas e fornecer feedback significativo pelo menos uma vez por semana.
- Faça do bem-estar uma parte das conversas sobre desenvolvimento de carreira, para que os líderes possam sonhar alto com suas equipes.
- Enfatize o bem-estar profissional como um foco na organização, pois trabalhar menos não significa trabalhar mais feliz.
“As empresas que desejam atrair e reter trabalhadores e competir na economia global de hoje devem incentivar comunidades gentis no trabalho, aumentar o acesso aos recursos necessários de saúde mental e cultivar uma cultura de respeito por todos os colaboradores. Ao adotar essas medidas, os líderes empresariais podem prevenir o esgotamento e garantir que seus funcionários tenham uma experiência de trabalho positiva.” Enfatiza Madalena Feliciano.
Para líderes e colaboradores
Existem algumas medidas que podem ser tomadas para ajudar a prevenir o burnout:
- Estabeleça limites: É importante definir limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. Evite levar trabalho para casa e reserve tempo para atividades relaxantes e hobbies que ajudem a aliviar o estresse.
- Aprenda a dizer não: Muitas vezes, os trabalhadores se esforçam demais para agradar os outros e acabam sobrecarregados. É importante aprender a dizer não quando necessário e priorizar tarefas importantes.
- Pratique a autocuidado: Cuidar da própria saúde mental e física é fundamental para prevenir o burnout. Isso pode incluir dormir bem, se alimentar de forma saudável, praticar exercícios físicos, se conectar com a espiritualidade e reservar tempo para relaxar e se divertir.
- Busque apoio: É importante ter um sistema de apoio, seja amigos, familiares ou colegas de trabalho, com quem possa conversar e compartilhar preocupações. Isso pode ajudar a reduzir o estresse e aumentar a resiliência.
- Comunique-se com o empregador: Se estiver enfrentando desafios no trabalho, é importante comunicar-se com o empregador para buscar soluções. Isso pode incluir ajustes no trabalho, treinamento adicional ou apoio emocional.
- Faça pausas regulares: É importante fazer pausas regulares durante o dia de trabalho para descansar e recarregar as energias. Isso pode incluir caminhar, fazer uma pausa para o café ou simplesmente relaxar por alguns minutos.
- “Pratique técnicas de gerenciamento de estresse: Existem várias técnicas que podem ajudar a gerenciar o estresse, como a meditação, auto-hipnose ou a ioga. Encontre uma técnica que funcione para você e pratique regularmente.” finaliza Madalena Feliciano.