Sediada pelo Brasil, reunião final do comitê gestor analisa as ações para implementar a Declaração de Belém
O Brasil, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sedia nesta semana, dias 13 e 14 de março, a reunião técnica final do comitê gestor do projeto AANCHOR, importante iniciativa que faz parte da Aliança de Pesquisa e Inovação de Todo o Oceano Atlântico. Os representantes de beneficiários do projeto, incluindo representantes de diversas instituições europeias, de Cabo Verde e da África do Sul, avaliam os resultados dos projetos pilotos que envolvem plataformas para treinamento e capacitação, inovação e tecnologia para aquicultura, redes de Escolas Azuis e de infraestrutura de pesquisa marinha, além das iniciativas para biotecnologia marinha e dados científicos sobre o Atlântico.
O AANCHOR é o resultado do esforço da diplomacia científica à medida que foi um instrumento para apoiar a implementação da Declaração de Belém, em 2017.
Os resultados da reunião no Brasil subsidiarão a reunião de alto nível, que será realizada em Portugal, para o encerramento oficial do Projeto. A continuidade do projeto passa pela implementação da Aliança de Pesquisa e Inovação de Todo o Oceano Atlântico (AAORIA, na sigla em inglês), cuja declaração foi assinada no ano passado em Washington, nos Estados Unidos, pela África do Sul, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Estados Unidos, Marrocos e União Européia.
“Reconhecemos que estamos num ponto decisivo, no qual a ciência, a tecnologia e a inovação podem desempenhar um papel crucial na resposta aos desafios e na criação de um futuro mais sustentável e equitativo para o Atlântico e as suas comunidades”, afirmou a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Marcia Barbosa.
A secretária citou a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que se estenderá até 2030, e o recente acordo histórico alcançado na Conferência Intergovernamental sobre Biodiversidade Marinha de Áreas Além da Jurisdição Nacional (BBNJ). E complementou apontando a Aliança do Atlântico como uma plataforma que tem o potencial de reunir diversas partes interessadas, incluindo comunidades costeiras e povos indígenas.
Em suas palavras de boas vindas aos participantes, a secretária citou dados do Relatório Global de Ciência Oceânica da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, de 2020, envolvendo gênero e patentes. Em média, apenas 38,6% do total de cientistas deste campo do conhecimento são mulheres. Outro dado apontado pelo relatório envolve a quantidade de patentes registradas. Apenas 17% das citações feitas a artigos de países da América Latina e Caribe são provenientes de inventores destas regiões, enquanto na Europa a medida equivalente é de 36%, e América do Norte chega a 75%. “Este é um indicador de que temos muito trabalho para fazer que os benefícios da ciência oceânica cheguem igualmente à humanidade”, afirmou Marcia.
A coordenadora do AANCHOR, Sofia Cordeiro, destacou que o AANCHOR recebeu financiamento da União Europeia e fomentou a cooperação entre os países dos dois lados do Atlântico. Ela enfatizou, no entanto, que mesmo com o encerramento do AANCHOR, as ações terão continuidade, pois receberam apoio para serem implementadas por instituições externas à Aliança.
Para Edoardo Casarotto, oficial de Política da Comissão Europeia, a cooperação internacional é de suma importância para o tema do oceano, pois será possível desenvolver soluções conjuntas para os desafios que são globais. Ele destacou como o Atlântico é relevante para a União Européia, por integrar as rotas comerciais, participação na produção de alimentos, entre outros ecossistemas marinhos. “O oceano está no topo da agenda política”, afirmou Casarotto.
Resultados
Entre os resultados apresentados das seis ações conjuntas, está a adesão de novos países à rede Escola Azul do Atlântico. A proposta é levar a cultura oceânica para o currículo de escolas públicas e privadas de forma transversal: da disciplina de história à de ciências. Com quase três anos de existência, a rede reúne 445 escolas de 14 países, abrangendo mais de 125 mil estudantes, 3,4 mil professores e 189 instituições parceiras. No Brasil, o programa Escola Azul conta com a participação de 42 escolas, alcançando mais de 8,6 mil estudantes e envolvendo 255 professores. Metade das instituições de ensino é pública e distribuída por todo o país, de Norte a Sul e do interior às regiões costeiras O programa é coordenado pelo projeto Maré de Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).