O senador e amigo pessoal do presidente Lula, Humberto Costa, teve um assessor que trabalhou no seu gabinete alvo da Operação Desnatura da Polícia Federal. A investigação apura desvios de mais de R$ 100 milhões no Programa Leite de Todos. A informação é do Blog do Fausto Macedo, no Estadão e foi confirmada pelo nosso site.
O juiz que determina a quebra do sigilo bancário e fiscal se chama Tiago Antunes de Aguiar.
Confira a matéria do Estadão que já está pipocando em todo Brasil. Nós procuramos o senador Humberto Costa (PT) que, é bom frisar, não é investigado e nem citado nessa operação, mas deve saber quem é o rapaz, já que ele foi seu assessor. Assim que tivermos uma nota do senador atualizaremos essa matéria.
Leia a matéria de Fausto Macedo:
A Justiça Federal em Pernambuco decretou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Ademilton de Góes Bezerra Filho, ex-assessor parlamentar do senador Humberto Costa (PT-PE). Ademilton é suspeito de integrar organização criminosa que teria desviado R$ 100 milhões por meio de fraudes do Programa Leite de Todos – projeto gerenciado pelo governo estadual para fornecimento do produto na merenda de alunos da rede pública de ensino.
Humberto Costa não é investigado, nem citado por nenhum envolvido na Operação Desnatura.
Na quarta-feira, 2, agentes da Polícia Federal fizeram buscas em endereços do ex-assessor do petista.
Ademilton exerceu o cargo de auxiliar parlamentar do senador petista em três períodos distintos – o último encerrado em abril de 2023. Costa confirma a ligação profissional com Ademilton, mas afirma não ter conhecimento de qualquer atividade ilícita. O senador diz apoiar a rigorosa apuração dos fatos por parte das autoridades competentes’.
Segundo a investigação, Ademilton, enquanto chefe-de-gabinete da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, integrava organização criminosa e teria recebido valores ilícitos ‘mediante o uso de uma cooperativa de fachada para firmar contratações através de processos de inexigibilidades de licitações’.
A primeira etapa da Operação Desnatura – desencadeada em junho passado – revelou evidências de adulteração do leite oferecido às crianças e adolescentes da rede pública, além de desvios de R$ 100 milhões. Ao requerer autorização judicial para a segunda fase da Desnatura, a PF apontou suspeitas sobre Ademilton.
Os investigadores sustentam que o esquema do qual ele seria um dos principais integrantes incluía lavagem de dinheiro e crime contra a saúde pública, ‘constatando a baixa qualidade do produto e utilização de produtos proibidos no leite que podem causar danos à saúde humana’.
Conflito de interesses
A investigação aponta irregularidades em pagamentos a cooperativas, com suposto favorecimento da Coopeagri, da Coopepan e da Integrar por parte de Ademilton. A PF indica que as cooperativas seriam ‘fachadas’ para contratações sem licitação
A decisão afirma, por exemplo, que conversas encontradas no aparelho telefônico de Geraldo Lobo, diretor financeiro da empresa Natural da Vaca Alimentos Ltda, investigada na operação, ‘indicam fortes indícios de que Ademilton favorecia as entidades contratadas e sob comando da organização criminosa’.
“Ademilton era acionado para efetuar os pagamentos das cooperativas, principalmente a Coopeagri, resolvendo as demandas trazidas por Geraldo”, diz a investigação.
Ademilton ainda tinha ‘vínculo empresarial com Paolo Avalone, sócio-administrador da Natural da Vaca.
Segundo o juiz Tiago Antunes de Aguiar, da 24ª Vara Federal de Pernambuco, Ademilton compõe ‘o quadro societário da Nutrir Comércio Ltda, chamando atenção o fato de um então servidor do alto escalão da Secretaria de Desenvolvimento Agrário ter sociedade com uma pessoa que era o principal fornecedor da mesma pasta.’
O ex-chefe-de-gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Agrário deveria ter pago R$ 250 mil para aquisição das cotas da empresa, mas a movimentação financeira sob análise não apresenta esse aporte. Ou seja: aparentemente Ademilton se tornou sócio gratuitamente.
Organização criminosa
A decisão do magistrado de Pernambuco aponta que ‘há indícios fortes de uma organização criminosa’ liderada pelos empresários Paolo Avallone e Francisco Garcia Filho, sócios majoritários da Natural da Vaca e da Planus Administração e Participações.
Estariam envolvidos também, como ‘gerentes’ da organização, os funcionários da Planus Geraldo Fernandes Lobo Nogueira e Domingos Sávio Neves Tavares. Severino Pereira da Silva seria um ‘testa de ferro’ no grupo.
Os servidores públicos envolvidos seriam, segundo o documento, Ricardo Luiz de Oliveira Souza, ex-gerente do Programa Leite de Todos, Ademilton de Góes, ex-chefe-de-gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Agrário e Ruy Carlos do Rego Barros Ramos Junior, atual servidor da Secretaria de Desenvolvimento Agrário. ‘Desde o início das investigações, causou estranheza, considerando o longo tempo em que a contratação está vigente e a monta dos valores despendidos à Coopeagri, o fato de a Secretaria de Desenvolvimento Agrário mostrar-se ignorante quanto às circunstâncias em que estava ocorrendo a execução contratual’, aponta a decisão.
Segundo o documento, a organização criminosa estaria ‘estruturada em núcleos de atuação com viés na prática de cada um dos crimes específicos, tendo se perpetuado ao longo do tempo, considerando que os fatos sob suspeita remontam ao ano de 2014 e mantêm-se até os dias atuais’.
Fonte: Ricardo Antunes