O cometa de coloração esverdeada C/2022 E3 (ZTF), que nos visita a cada 50 mil anos, já está protagonizando lindas imagens por onde passa e agora chegou a vez de ser registrado do Brasil.
Segundo o astrônomo Dr. Filipe Monteiro, pós-doc do Observatório Nacional, a partir desta quarta-feira (1º), o cometa começará a ser visível do Hemisfério Sul e, consequentemente, do Brasil, com uma melhor altura de observação a partir do dia 4 de fevereiro. Com o passar dos dias, o cometa será visto mais alto no céu e com mais tempo de visibilidade. Nas condições ideais, será possível observar o cometa a olho nu.
“Quando estiver em sua máxima aproximação com a Terra, o cometa passará a cerca de 0,28 unidades astronômicas da Terra (cerca de 42 milhões de quilômetros). Ou seja, apesar da aproximação com o nosso planeta, o cometa C/2022 E3 (ZTF) não tem chance de colisão com a Terra”, diz Filipe.
Com relação ao brilho esverdeado do cometa, o astrônomo observa que objetos como o C/2022 E3 podem exibir um brilho cada vez mais intenso dependendo da quantidade de material volátil que ele carrega e que é sublimado à medida que se aproximam do Sol.
“No dia 1º de fevereiro o cometa alcançará sua máxima aproximação da Terra, podendo atingir magnitude +6 ou menos. É importante destacar que quanto mais brilhante é um objeto, menor é sua magnitude. Assim, um objeto com magnitude +2 é mais brilhante do que um que tem uma magnitude +6, por exemplo”, diz Monteiro.
C/2022 E3 (ZTF) fez sua aproximação ao sol (periélio), em 12 de janeiro, quando passou a 160 milhões de quilômetros de nossa estrela antes de se dirigir para a Terra.
A descoberta do cometa C/2022 E3 (ZTF)
O cometa C/2022 E3 (ZTF) foi descoberto em março de 2022 pelo programa Zwicky Transient Facility (ZTF), que opera o telescópio Samuel-Oschin no Observatório Palomar, na Califórnia. O cometa tem um diâmetro relativamente pequeno, com cerca de 1 km e foi detectado ao passar pela órbita de Júpiter.
Monteiro explica que é possível saber que o cometa passou pela última vez pela Terra há cerca de 50 mil anos – quando a Terra ainda era habitada pelos neandertais – pelos cálculos de seu período orbital, tempo que um determinado objeto astronômico leva para completar uma órbita em torno de outro objeto.
“Após várias observações consecutivas após a sua descoberta, astrônomos traçaram a órbita de C/2022 E3, indicando que o seu período orbital é de cerca de 50 mil anos, ou seja, ele só pode ser visto da Terra a cada 50 milênios”, explica Monteiro.
Além disso, o astrônomo explica que muitos cometas de longo período conhecidos até hoje foram vistos apenas uma vez na história, visto que seus períodos orbitais são maiores que 200 anos, com alguns levando de 100.000 a 1 milhão de anos para orbitar o Sol.
De acordo com astrônomos do JPL da NASA, C/2022 E3 é um cometa de longo período que se acredita vir da Nuvem de Oort, a região mais distante do sistema solar da Terra que é como uma grande bolha contendo inúmeros detritos gelados e envolvendo o nosso sistema. Contudo, algumas previsões sugerem que a órbita deste cometa é tão excêntrica que não está mais em órbita do Sol. Se for assim, então ele não retornará e simplesmente continuará indo embora.
Os cometas são objetos feitos principalmente de gases congelados, rocha e poeira. Eles se tornam ativos à medida que se aproximam do sol. Isso porque o calor do astro aquece o cometa de forma rápida, fazendo com que seu gelo se transforme em gás. Neste processo de sublimação, forma-se uma nuvem ao redor do cometa conhecida como “coma”.
O cometa C/2022 E3 foi visto inicialmente com uma cor esverdeada brilhante e uma cauda de poeira “curta”, mas que deve aumentar à medida que se aproxima do Sol.
Como observar o cometa C/2022 E3?
O cometa poderá ser visto a olho nu apenas se as condições do céu forem bastante favoráveis, ou seja, com o céu escuro, sem Lua, e sem poluição luminosa. Isso ocorre porque o olho humano consegue ver objetos com magnitudes de até 6 aproximadamente. Esse poderá ser o primeiro cometa do ano visto a olho nu, e o primeiro após o cometa NEOWISE, que apareceu em 2020.
“Para observar o cometa, o mais sensato é usar binóculos, que facilitarão a observação desse visitante ilustre. Além disso, é importante destacar que não é uma tarefa tão fácil achar um cometa no céu. Por isso, além de instrumentos (binóculos, telescópios, câmeras fotográficas), é interessante que as pessoas procurem um lugar distante dos centros urbanos, fugindo assim da poluição luminosa. Para facilitar ainda mais a observação do cometa, o indicado é procurar pelo cometa quando a lua não estiver mais no céu”, explica Monteiro.
Por fim, o astrônomo fornece mais dicas aos observadores iniciantes:
“Se for sua primeira tentativa de localizar um cometa, tente em 10 de fevereiro de 2023, entre 19 e 21 horas, quando o cometa irá se encontrar muito próximo do planeta Marte [veja a imagem abaixo retirada do software Stellarium]. Uma estratégia que pode ser usada também por iniciantes, bem como os fotógrafos casuais, é tentar fotografar o cometa apontando sua câmera para sua localização aproximada no céu e tirando fotos de longa exposição de 20 a 30 segundos. Ao visualizar as imagens, possivelmente você irá notar um objeto difuso e com cauda. Usando essa técnica, muitos estão conseguindo fotografar o cometa mesmo que não o veja no céu”, conclui.
No dia 11 de fevereiro, a partir das 19h, o Observatório Nacional realizará uma nova edição do evento virtual de observação do céu “Céu em sua casa: observação remota”.