DEBATE RÁDIO JORNAL: Marília Arraes e Raquel Lyra trocam acusações e deixam espaço mínimo para propostas

O debate promovido pela Rádio Jornal com as candidatas Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) nesta quinta-feira, 20 de outubro, foi marcado pela intensa troca de acusações entre as postulantes. Elas disputam o segundo turno da eleição para o Governo de Pernambuco e, em meio à discussão, as propostas só foram esmiuçadas no bloco dedicado às perguntas de jornalistas.

As candidatas chegaram ao Sistema Jornal de Commercio de Comunicação sem esconder o jogo. Marília Arraes garantiu que iria debater Pernambuco, mas reforçou que jogaria o debate também para a conjuntura nacional, referindo-se à disputa entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) pela Presidência da República. A deputada, apoiada oficialmente pelo petista, cobra a adversária por um posicionamento e, diante da sua neutralidade, associa a ex-prefeita de Caruaru ao bolsonarismo.

Raquel Lyra também adiantou o tom do seu discurso no debate. À imprensa, a líder em intenção de voto, de acordo com a pesquisa RealTime Big Data divulgada nesta semana, afirmou que focaria o debate no estado e acusou a campanha adversária de fabricar desinformação, referindo-se às recentes decisões da Justiça Eleitoral.

O debate começou com a artilharia de ambas as candidatas voltadas à rejeição. Raquel Lyra iniciou sua fala classificando a adversária como “candidata da continuidade”, referindo-se ao apoio do PSB do governador Paulo Câmara à candidatura de Marília Arraes. O apoio socialista se deu após Lula e o PT garantirem apoio exclusivo à ex-filiada no segundo turno, diante da derrota de Danilo Cabral no dia 2 de outubro.

“Paulo Câmara apoia sua candidatura. É um governador que levou nosso estado pra uma situação ruim”, disse Raquel Lyra, questionando Marília sobre a aliança com João Campos. A ex-prefeita de Caruaru citou a votação de Marília Arraes no Recife, assim como a briga com o prefeito e agora aliado João Campos, para afirmar que a população recifense não confia na adversária.

“A verdade é que quem conhece Marília não vota nela. Em Caruaru, temos confiança do nosso povo. As pessoas querem capacidade de mudar e liderança, que saiba como colocar sonhos num projeto e tirá-lo do papel para virar realidade. Marília faz aliança, briga de mentirinha, conchavo, briga com primo e para se juntar depois, como Paulo Câmara. Vale tudo pelo poder?”, questionou a tucana.

Enquanto Raquel tentou colar em Marília a rejeição de Paulo Câmara, avaliada em 56% segundo pesquisa Ipec de setembro, a deputada federal tentou virar o jogo. Além de recordar o apoio da ex-prefeita de Caruaru ao atual governador, a deputada tentou associar a adversária ao bolsonarismo e mesmo ao ex-presidente Michel Temer (MDB).

Marília Arraes disse ter uma história de luta em Pernambuco, mas afirma que Raquel Lyra começou a conhecer o estado há cerca de um ano ao lado de Anderson Ferreira (PL), que foi o candidato de Bolsonaro ao Governo. Na ocasião, o então prefeito de Jaboatão dos Guararapes visava ser candidato ao Senado na chapa da então prefeita de Caruaru.

“Você andou com o candidato de Bolsonaro, suas opiniões e ideias foram formadas ao lado do candidato de Bolsonaro. (…) A gente contou, ela falou 19 vezes o nome de Paulo Câmara no último debate. Não tenho nada a ver com o governador, nunca troquei 5 minutos de conversa com ele. Foi você quem colocou ele, junto com seu pai, o então governador João Lyra. Eu sabia que não ia dar certo”, disse.

 

Em tempo, Raquel rebateu as críticas à neutralidade: “não é o presidente da República que vai consertar o teto do Hospital da Restauração ou o Getúlio Vargas. Vamos concluir a obra do Hospital da Mulher no Agreste de Pernambuco”, disse.

Marília Arraes chegou a sugerir que o apoio de Paulo Câmara à sua candidatura foi acordada com Raquel Lyra, com intuito de prejudicá-la. Além disso, nos últimos momentos do debate, a candidata do Solidariedade afirmou que a tucana tem acordo com Rodrigo Novaes (PSB), ex-secretário do Turismo do atual governador.

Aproveitando as críticas de Raquel Lyra sobre o mercado do turismo em Pernambuco, Arraes afirmou que o acordo pelo apoio de Novaes prevê a continuidade do secretário num eventual governo tucano. Como a afirmação ocorreu no último momento do debate, não houve direito de resposta ao vivo. A campanha da ex-prefeita, porém, enviou à reportagem a resposta da candidata sobre o assunto.

“Mais uma mentira de Marília Arraes. Eu nunca troquei eventual secretaria de governo por apoio político, estou fazendo uma campanha limpa e propositiva, que traga as soluções e propostas que nosso estado precisa. É assim que Pernambuco quer”, disse Raquel Lyra, em vídeo gravado após o debate.

Marília na ofensiva

Atrás nas pesquisas eleitorais, Marília Arraes adotou jogou na ofensiva, o que rendeu alguns bordões. A candidata criticou a adversária pela sua política educacional enquanto prefeita de Caruaru, apontando falhas na distribuição de merendas durante a gestão tucana na maior cidade do Agreste de Pernambuco.

Numa das suas falas, Marília afirmou que a adversária é conhecida como “Raquel do Tapuru” por causa de supostas larvas encontradas na alimentação das crianças na educação infantil de Caruaru. Além disso, citou que os indicadores apontados pela ex-prefeita não condizem com a realidade e disse que a tucana criou uma cidade imaginária chamada “Raquelândia”.

Sobre a disputa pela Presidência, Marília criticou Raquel afirmando que “neutro, só sabão de bebê”. Ao se defender sobre as críticas a Caruaru, a ex-prefeita afirmou que Marília Arraes nunca direcionou recursos de emendas parlamentares à cidade. Além disso, a tucana rebateu os ataques e contra-atacou citando as ações judiciais ganhas na Justiça contra a campanha adversária.

As falas repercutiram. Nos bastidores, interlocutores avaliaram que a postura combativa foi necessária, mas abriu espaço para contragolpes. Ao falar sobre maternidades, Marília Arraes citou que Raquel Lyra prometeu a construção de cinco maternidades em Caruaru, mas entregou somente uma.

Raquel se disse “perplexa com o desconhecimento” de Marília Arraes sobre a cidade, afirmando que o município nunca precisou de cinco maternidades, mas de uma unidade “decente”. A ex-prefeita disse que esse número de maternidades é necessário, sim, em todo o estado.

 

Fonte: Folha do Sertão 

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