Por Pedro Ferreira – Não há dúvidas de que o ex-governador Eduardo Campos deixou um legado significativo na política pernambucana. Originário de uma família tradicional, os Arraes, ele construiu sua carreira aproveitando as oportunidades que surgiram, guiado pela experiência e influência de seu avô, ex-governador do Estado também Miguel Arraes. Vale destacar, entretanto, que não sou um cientista político nem filiado a algum partido; sou apenas um professor. No entanto, ao analisarmos mais profundamente, podemos perceber que o percurso seguido por Eduardo e sua família Campos não é um caminho comum, mas sim um privilégio restrito a poucos.
É importante reconhecer o valor da trajetória de Eduardo, que soube aproveitar as oportunidades e consolidar sua carreira política. Todavia, cabe destacar que esse percurso foi facilitado por um ambiente favorável, onde a política já fazia parte do cotidiano familiar. Isso não diminui o mérito de suas conquistas, mas nos leva a refletir sobre a falta de apoio aos invisíveis da política, aqueles que não têm sobrenome influente ou as mesmas oportunidades.
Na política, a influência muitas vezes se sobrepõe ao mérito, e isso é algo que precisa ser repensado. Por que não apoiar aqueles que, apesar de desconhecidos, têm potencial e capacidade para contribuir com o bem comum? Por que perpetuar um ciclo em que os mesmos grupos detêm o poder, enquanto os demais lutam para serem ouvidos?
O atual prefeito de Recife, herdeiro do legado de Eduardo, assim como outros membros da família, segue um caminho que parece natural dentro da lógica política em que cresceram. Entretanto, essa continuidade levanta questionamentos sobre a abertura para novas lideranças, aquelas que, apesar de não terem o mesmo acesso, têm vontade e capacidade de fazer a diferença.
Como servidor público, sinto-me, por vezes, impotente diante da escassez de oportunidades. Possuo capacidade e desejo, mas careço da influência e do poder aquisitivo (dinheiro) que poderiam abrir portas para um futuro promissor, tanto para mim quanto para outros na mesma situação. A política, em sua essência, deveria ser um espaço onde todos tivessem a chance de crescer e contribuir, mas, na prática, muitas vezes se restringe a um círculo fechado e repetitivo ou à alternância de poder entre grupos familiares. Isso é o que chamamos de democracia? Eis a questão!
A história de vida de Eduardo Campos é digna de ser lembrada, mas não deve ser endeusada. Homenagens são válidas, desde que acompanhadas de ações concretas que beneficiem a sociedade como um todo, e não apenas uma elite privilegiada. É necessário um olhar mais sensível e comprometido com a realidade de todos, especialmente daqueles que, apesar de não terem o mesmo prestígio, merecem uma chance.
Não se trata de criticar a memória de Eduardo ou de sua família, mas de pedir que os valores que ele defendeu em vida sejam aplicados de forma mais ampla, beneficiando aqueles que realmente precisam. É um apelo para que a política seja mais inclusiva, mais justa e mais preocupada com o bem comum, e não apenas com a manutenção de privilégios.
A homenagem verdadeira a Eduardo Campos será aquela que transformar sua memória em ações concretas, que deem voz e vez a quem precisa, que fortaleçam a democracia e que mostrem que o poder político pode, sim, ser um instrumento de mudança real na vida das pessoas. Que este apelo seja ouvido e que os líderes de hoje possam agir com a mesma ética e compromisso que Eduardo buscou em sua trajetória.
Se este pedido for atendido, não será apenas uma vitória pessoal, mas um sinal de que a política ainda pode ser um espaço de transformação. Assim, talvez Eduardo Campos possa descansar em paz, sabendo que seu legado está sendo honrado da melhor maneira possível: com justiça, transparência e verdadeiro serviço ao povo. Espero não estar ofendendo os dignitários da política. Aguardo o apoio e a oportunidade de crescimento por parte da família Campos ou de qualquer outro grupo político que possa transformar minha vida. Agradeço a todos e fico no aguardo.
Prof. Pedro Ferreira de Lima Filho é filósofo, Pedagogo e Teólogo