Lula poderia aprender algo com Fernando Henrique. Nunca é tarde para ser nobre

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez o que sabe fazer melhor: usou uma extensa capacidade de argumentação para dizer sem dizer aquilo que queria dizer, mas não podia. Declarou apoio a Lula (PT), embora seja presidente de honra do PSDB, que apoia Simone Tebet (MDB).

Fez isso sem citar o nome do petista, mas usou até as palavras de ordem da campanha do PT. Pediu que seus apoiadores votem “em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual”.

É, também, o que Tebet defende, mas ela não foi citada, apesar de ser a candidata do partido.

O gesto é algo grandioso para Lula, para sua campanha e os petistas ficaram eufóricos pelo que se soube. Como se tivessem marcado um gol importante. É interessante que FHC, hoje, seja importante para Lula.

É mais grandioso ainda vindo de Fernando Henrique, porque até as emas e periquitos do Palácio da Alvorada sabem que o inverso nunca aconteceria. Lula nunca foi capaz desse tipo de grandeza.

Há alguns meses, numa entrevista à Rádio Jornal, Fernando Henrique falou sobre a possibilidade de ainda ser candidato. Na época, em outro gesto de grandeza, disse que não iria porque a política brasileira precisava de renovação e aconselhou Lula a passar o bastão também.

É algo que nunca aconteceu, nem mesmo quando o petista estava preso e prejudicou a campanha de Fernando Haddad (PT) deliberadamente para se manter em evidência, insistindo que era candidato, mesmo quando não havia qualquer possibilidade jurídica de isso acontecer.

Não pode haver crítica à decisão de Fernando Henrique, ele é livre para escolher e generoso para fazer isso acreditando que age em benefício do país. Não se pode esquecer que o outro lado dessa polarização medonha já defendeu que o próprio FHC fosse “fuzilado”.

Mas, Lula, que chamava o tucano de “professor”, quando eram amigos e tomavam cerveja no boteco bem antes de serem presidentes, poderia aproveitar e aprender algo para a vida. Pedir desculpas por ter usado a própria posição para atacar a reputação de FHC por tantos anos, jogando a população contra o responsável pelo mínimo de estabilidade que esse país conquistou, seria um bom começo.

Nunca é tarde para alguma nobreza.

 

 

Fonte: Igor Maciel

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