As Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros de Pernambuco foram alvo de um número assustador de trotes nos quatro primeiros meses de 2024.
Dados divulgados, nesta quarta (29), apontam que chegou a quase 300 a média diária de ligações irregulares para os números de emergência do Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods).
Essa média diária foi feita a partir da quantidade de telefonemas irregulares disparados para as polícias e bombeiros, que terminam mobilizando equipes sem necessidade e atrapalhando as ocorrências reais.
Foram nada menos do que 36 mil trotes registrados em 121 dias, de janeiro e abril deste ano. Ou seja, foram quase 9 mil por mês.
Isso reflete em 297 ligações suspeitas feitas diariamente à polícia, se for comparado no período de 121 dias compreendidos nos primeiros quatro meses de 2024.
Operação
Esses números foram repassados durante a apresentação da Operação Trotes.
Deflagrada pela Polícia Civil, nesta quarta-feira (29), a ação cumpriu sete mandados de busca e apreensão contra suspeitos de envolvimento nessas ligações.
Os detalhes foram repassados em coletiva à Imprensa, na sede operacional da Polícia Civil, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife.
Mandados
Os mandados foram cumpridos em Olinda, Recife, Paulista, São Lourenço da Mata e Camaragibe, todos na Região Metropolitana, além de Panelas, no Agreste do Estado, e Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata Sul.
Segundo a Polícia Civil, essas pessoas não foram presas por causa do tipo de delito, considerado de “menor potencial ofensivo”.
Por isso, a polícia sequer pediu ao Judiciário pernambucano os mandados.
A corporação disse que essas pessoas serão investigadas e podem ser condenadas por falsa informação de ocorrência policial. A pena prevista é de seis meses.
Segundo o delegado responsável pelas investigações, Eronides Meneses, foram identificados dez suspeitos de passar trotes para as forças de segurança.
São cinco mulheres e cinco homens, todos com idade entre 36 e 70 anos.
Líder
A pessoa que liderou o ranking de mais trotes para as polícias é uma mulher, que não teve o nome e idade divulgados.
Segundo a Polícia Civil, sozinha, ela fez 1.542 ligações falsas em três meses, de janeiro a março deste ano. Ou seja, 514 trotes a cada mês.
Segundo a polícia, a suspeita trabalha, cumpre uma rotina de horários, mas, em determinados momentos do dia, fazia essas ligações para as forças policiais.
Investigações
Ao todo, segundo a Polícia Civil, apenas durante o curso das investigações, foram identificadas 7.881 ligações suspeitas realizadas em 15 terminais telefônicos, no primeiro trimestre deste ano.
Isso equivale a uma média diária de 86 trotes passados às forças de segurança.
Destes 15 terminais investigados, cinco deles eram telefones públicos que já foram desativados pelas operadoras de telefonia.
Perfil das ligações
Segundo a Polícia Civil, além das falsas ocorrências de crimes, as pessoas que foram alvos das investigações também praticavam outros tipos de trotes.
Entre eles, estão: ligação em que a pessoa fica em silêncio sem comunicação alguma apenas para ocupar o operador, narração de fatos aleatórios, falsas acusações, pornografia ou fazendo piadas com os profissionais.
“O levantamento foi feito pelo Ciods, onde o relatório apontava 15 terminais investigados. Destes, cinco eram telefones públicos, mas os demais eram aparelhos celulares, onde os responsáveis foram identificados. Todas serão intimadas e responderão pelos crimes que cometeram. São pessoas que trabalham, outras desempregadas, alguns que atuam no emprego informal, de todos os tipos. Alguns dos alvos chegou a telefonar para o Ciods e fez um convite para beber com a operadora. Outros pareciam estar com carência, onde ligavam apenas para ocupar os operadores. Tem gente também aposentada. Todos cometeram crimes e vão responder por falsa comunicação de crime e interromper serviço telefônico e telegráfico de utilidade pública. Até mesmo um dos investigados ligava para tratar sobre pornografia com os operadores”, destacou o delegado responsável pelas investigações, Eronides Meneses.
Os impactos
Segundo o gerente-geral do Ciods, coronel Alexandre Tavares, os prejuízos são enormes para toda a cadeia de profissionais que atuam no Ciods, desde do teleatendente ao policial que está na rua recebendo as demandas.
De acordo com ele, mensalmente, o Ciods recebe uma média de 200 mil ligações, o que equivale a 2,4 milhões por ano.
“A gente enfrenta um real problema que é o recebimento de trotes. Primeiro que a notícia falsa ela já ocupa um atendente que está pronto para receber uma chamada de emergência. Segundo, se o operador não conseguir filtrar que se trata de uma chamada falsa, o atendente ainda vai demandar uma viatura, seja das policiais ou do Corpo de Bombeiros para realizar uma atividade que não existe. A gente tem toda uma perda de energia e gasto de recursos desnecessários. O sentido é mostrar que essa prática causa um prejuízo enorme para a segurança pública e o cidadão que necessita da prestação dos serviços das forças de segurança”,enfatizou o gestor.
Ainda segundo ele, os operadores do Ciods são capacitados para lidar com qualquer tipo de chamada de emergência e, que, além disso, também são treinados para lidar com a saúde mental diante as falsas ocorrências e do desrespeito por parte de alguns suspeitos de praticar trotes.
“Quem recebe uma chamada, via 190, o atendente vai demandar isso lá na ponta, que são os policiais, que vão atender as ocorrências. Se partimos do princípio que a pessoa denuncia uma falsa notícia, toda essa cadeia de fluxo é desmontada, sem nenhum proveito, porque toda essa cadeia é perdida e gasta. O impacto na ponta de lança é inestimável. Mas, nossos operadores são capacitados para lidar com toda essa situação, porém, o gasto de energia e recursos são evidentes e prejudiciais. Pois, trote é crime”, alertou o coronel.
Fonte: Diário de PE