Representantes do agronegócio em Petrolina viram como “um grande equívoco” a declaração do líder nacional do MST, João Pedro Stédile, ontem (15), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que apura a atuação do movimento. Stédile afirmou que a exportação de frutas da região estaria ameaçada porque os produtores ainda utilizam o glifosato (substância química que é ingrediente ativo de vários herbicidas e defensivos agrícolas utilizados no controle de plantas daninhas) em suas fazendas, e que até 2026 a União Europeia proibirá a entrada de alimentos que usam tal defensivo agrícola.
“Ele está completamente equivocado com o que se passa na produção de frutas no Vale do São Francisco. Em primeiro lugar, nós temos uma prática saudável e boas práticas agrícolas para a produção das nossas frutas. Não só as frutas exportadas, como também as que servem o mercado interno, que não se diferem na qualidade nem no controle da aplicação de agroquímicos”, assegura o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Jailson Lira (foto).
Segundo ele, as fazendas vinícolas de Petrolina seguem normas internacionais. Além disso, segue todas as outras que correspondem à produção agrícola do país regida pela NR-31, que estabelece todos os critérios e a normatização para a produção. “Então, a maioria dos produtores está obedecendo regras não só nacionais, como também internacionais”, frisou.
Lira citou ainda a questão da rastreabilidade, que permite ao cliente consumidor, em qualquer parte do mundo, chegar até a fazenda na região que produziu essa fruta e conhece todo o processo da produção. Ele deixou claro também que o glifosato, citado por Stédile, não é utilizado pelos produtores locais. “Nós não fazemos controle de ervas daninhas através da aplicação de herbicidas. Existem outras maneiras de se controlar, e a gente tem usado outras maneiras, sem aplicação de agroquímicos”, pontuou.
Sobre o aeroporto de Petrolina, o qual Stédile disse que “iria à falência” caso a região deixasse de exportar frutas, ele ressaltou que quase nada é exportado via área. “O aeroporto não leva sequer meio por cento da produção total de frutas. Praticamente todas as cargas vão via marítima”, pontuou.
O representante dos fruticultores aproveitou para tecer duras críticas ao MST de Stédile, que recentemente invadiu uma área ambiental no Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho e outra da Embrapa Semiárido. “Então, a gente só tem a lamentar determinadas vozes que ecoam dessa maneira e não têm nenhum compromisso com a verdade, nem que a contribuição que poderia ser dada para o crescimento da região. O Vale do São Francisco cumpre com um papel social grandiosíssima. Temos aqui praticamente 120 mil trabalhadores empregados com carteira assinada, pagando impostos e provendo suas famílias com a renda fruto do seu trabalho, como também produtores rurais dispostos a emprenhar seu dinheiro e sua vida para que a região cresça”, completou.
Desconhecimento
Reforçando as palavras de Lira, o consultor Jakson Diniz afirmou ao Blog que Stédile mostra uma total falta de conhecimento sobre o setor no Vale, especialmente em relação à qualidade das frutas. Segundo ele, para poder comercializar as frutas, os produtores precisam de várias certificações de acordo com os mercados. “Uma das maiores exigências e limitações são as análises de resíduos, que são feitas em cada parcela colhida, para saber se pode ser comercializada ou não. Com o passar dos anos, estamos cada vez mais produzindo frutas com baixíssima quantidade de resíduos, graças ao manejo adequado no campo e novos registros de produtos com moléculas modernas, com alta eficiência e rápida degradação”, declarou.
Sobre a invasão de integrantes do movimento em áreas ligadas a instituições públicas em Petrolina, o líder do MST admitiu que houve um erro em relação à Embrapa Semiárido. No entanto, Stédile afirmou que cada ‘braço’ do MST tem sua autonomia e, no caso da Embrapa, a intenção não era ocupar terras, mas chamar atenção das autoridades para a questão da Reforma Agrária.
Fonte: Carlos Britto