Marcou território em Petrolina, a cidade mais poderosa do Rio São Francisco, onde empatou a eleição enfrentando os Coelho, os Ramos, Patriota e os bolsonaristas de todos os matizes.
Raquel Lyra venceu nas principais cidades do Agreste (Caruaru – onde governou por seis anos – Garanhuns, Santa Cruz do Capibaribe – o maior reduto de Bolsonaro em Pernambuco), Vitória de Santo Antão, Bezerros, Gravatá. Mas, principalmente, na Mata, na Região Metropolitana e no Recife.
Foi nesse território onde Raquel conquistou a vitória. E ganhou porque quase todas as composições políticas que Marília derrotou no primeiro turno se uniram contra ela no segundo. Contou muito nessa disputa a morte trágica, indesejada, do jovem Fernando Lucena, esposo de Raquel. Mas isso é o mistério da vida e, em nome da minha família, peço a Deus que conforte e ilumine todos os familiares e amigos de Fernando.
Raquel e Priscilla Krause (sua escudeira maior) juntaram o apoio do esquema de Bolsonaro em peso, dos setores econômicos poderosos, dos ressentimentos e contradições de sempre do PT local com Marília (Lula só veio ao Recife quinze dias depois de reiniciada a campanha, muito por conta da má vontade dos dirigentes petistas no Estado, que preferiam a neutralidade de Lula na disputa pernambucana). É assim a política.
Marilia resistiu e avançou, grávida de sete meses, lutando por Lula e naturalmente pela sua vitória. Penso que saiu bem maior do que entrou. O apoio fictício do PSB foi o seu cavalo de Tróia. A associação da sua imagem a Paulo Câmara, o abraço da morte. A versão do apoio desse conjunto, soprado pela imprensa, e a foto de Lula levantando o seu braço lado a lado com o primo João Campos, jogou no colo de Marilia a rejeição do eleitorado ao PSB e a Paulo Câmara, com seus 70 por cento de reprovação.
A campanha de Raquel, sejamos justos, soube aproveitar-se da armação. Enquanto isso, o jogo pesado empurrava a máquina do governo para o colo de Raquel. À luz do dia, Paulo Câmara assinava autorizações milionárias de serviço para prefeitos do PT, do PSB e de outros partidos, e logo em seguida os mesmos se dirigiam ao comitê da adversária para declarar apoio eleitoral. A carga foi muito pesada.
Mas mesmo assim, o povão não abandonou a candidata. Os 2.100.000 votos de Marília em Pernambuco, no segundo turno, foram os mesmos 2.100.000 votos da diferença entre Lula e Bolsonaro, em todo o Brasil. Não é pouca coisa.
Esse capital político foi construído por Marilia, ao lado de André de Paula e Sebastião Oliveira. A alquimia entre os três funcionou. Mesmo com a derrota eleitoral, essa unidade, sendo mantida, pode ter grande importância política em Pernambuco, fazendo surgir um novo campo de força, desde quando amplie as alianças e mantenha viva a chama da coligação Pernambuco na Veia.
A tarefa que se impõe agora é essa. Reunir a base e partir firme para participar da ação do novo Governo Federal em Pernambuco e defender, mesmo que na oposição ao Governo do Estado, as propostas da campanha.
As casas das mulheres pernambucanas, o investimento de um bilhão de reais de dinheiro azul e branco, em 2023, para enfrentar a fome, a implantação do mais médicos Pernambuco, a moeda social, a redução do Ipva, a cultura popular, a reativação do pacto pela vida, as maternidades em todas as cidades, o governo da primeira infância, a educação em tempo integral, o Projovem Pernambuco, a saúde na palma da mão e o projeto restaurar, na saúde, tecnologia avançada e internet de qualidade para todos os municípios, entre outros, e, sobretudo a defesa radical de Lula Presidente, são marcas que ficaram na cabeça e na esperança das pessoas que votaram em Marília Arraes.
Não podem ser apenas palavras esquecidas ao vento. Marília mostrou que tem visão de futuro, conhecimento dos problemas do Estado e liderança, capacidade de diálogo e firmeza política para cuidar dos que mais precisam. Amadureceu muito na batalha da vida. Lula sabe quem verdadeiramente esteve com ele. E sabe quem apenas se aproveitou do seu prestígio e da gratidão que o povo pernambucano lhe devota. É só olhar o mapa da votação em Pernambuco e fazer as contas.
Marilia tem a força da mulher de coragem, que aprendeu a enfrentar obstáculos. Foi a campeã de votos do povo do Sertão, dos menores municípios, da periferia, da maioria que tem menos acesso às políticas públicas e às oportunidades do mercado. Mas, como me disse um sábio sertanejo, “…em política não tem bem querer. Tudo é luta e conquista”. Acho que também é verdade, empatia, humildade, reconhecimento, amor e paciência; o tempo ensina assim.
Contribuí na comunicação da campanha de Marília Arraes para governadora de Pernambuco. Foi extraordinário testemunhar mais uma vez uma proposta carregada pelas mãos do povo, escutar jovens e adultos, homens, mulheres e pessoas revelando e assumindo identidades diversas, com um brilho verdadeiro de esperança no olhar.
Tive o privilégio de mais uma vez enfrentar adversários qualificados e bem postos na condução dos seus objetivos de comunicação eleitoral em Pernambuco, essa escola superior de luta e ciência política. Em 1998, me senti ganhando, mesmo perdendo a eleição com Miguel Arraes; em 2006 e 2010, ganhei ganhando, com Eduardo Campos; em 2014 um avião explodiu e mesmo ganhando aquela eleição, foi como se tudo parasse no tempo.
Agora em 2022, mesmo perdendo a eleição com Marília, tenho a esperança de que as raizes do pensamento de Arraes estejam vivas e sejam mais solidamente preservadas e praticadas. Com a vitória de Lula presidente, a esperança se renova mais uma vez.
Pernambuco, como sempre, deu mais uma lição de pioneirismo político, elegendo, pela primeira vez, e ao mesmo tempo, as primeiras governadora e senadora da sua história.
Parabéns e meu respeito ao time que ganhou.
*Jornalista, publicitário e coordenador de comunicação da campanha de Marília Arraes ao Governo de Pernambuco.