Campanha Nacional reforça a importância de ações de segurança no trânsito
De acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), das 74,3 milhões de Carteiras Nacional de Habilitação (CNHs) emitidas no País, apenas 35% são de mulheres. Na condução de veículos pesados, a participação é ainda menor. Segundo a Senatran, 182.376 mulheres têm habilitação para dirigir caminhões, o que corresponde a apenas 6,5% do total de motoristas da categoria. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet) mostra que 2 milhões de brasileiros têm medo de dirigir, sendo que 80% são mulheres.
Apesar das piadas sobre a falta de habilidade das mulheres ao volante, em geral elas são mais cuidadosas que os homens. Segundo dados da Quality Planning, empresa de pesquisa para companhias de seguros, os homens têm 3,4 vezes mais chances de conseguir uma multa por dirigir de forma imprudente e 3,1 mais possibilidades de serem pegos por dirigir embriagados.
Para a psicóloga Vanina Miranda da Cruz, docente no curso de Psicologia da Faculdade Unime-Anhanguera, o protagonismo da mulher no trânsito faz parte do desenvolvimento feminino em prol de uma sociedade mais igualitária. Para a especialista, nesse contexto de machismo, há também no trânsito a existência de uma hierarquia em que homens são vistos como superiores e, portanto, gozariam de privilégios em relação às mulheres.
“Para combater o machismo é preciso pensá-lo como estrutural, enraizado e muitas vezes banalizado. O trânsito, por outro lado, precisa ser visto como um espaço múltiplo e complexo, onde parte da vida acontece cotidianamente, ocupado e feito por nós, homens e mulheres, pessoas de todas as idades, que o utilizamos para transitar, para conviver, para existir. Para combatermos o machismo no trânsito é preciso reconhecer esse espaço como parte da nossa existência, que precisa ser harmônico e respeitoso para que possamos reduzir as desigualdades e por consequência, reduzir acidentes”, ressalta.
A psicóloga destaca a Campanha Maio Amarelo, que tem por objetivo reforçar a importância de medidas em prol da segurança no trânsito. Para Vanina a educação é fundamental para combater o machismo e a realização de campanhas que estimulem valores como cidadania para todos, é uma forma de coibir toda forma de opressão e violência.
EXEMPLOS DE MACHISMO NO TRÂNSITO
“O espaço externo: as ruas, o trabalho, os espaços de decisão, foram negados à mulher, falando em um contexto histórico. Dessa forma, ainda percebemos resquícios dessa limitação social que impedia a mulher de acessar livremente, em mesmas condições que o homem o direito a transitar livremente e a dirigir. Pesquisas mostram que a mulher age com mais prudência, mas é um exemplo de machismo julgar que ela é lenta e não tem habilidade. Uma frase extremamente machista e comum é: “só podia ser mulher” quando alguma atitude é considerada inadequada no trânsito: que provas concretas existem que apenas mulheres podem cometer aquele ato?
Vanina aponta que, no seu ambiente profissional, já ouviu relatos de mulheres que, quando de posse de carros considerados valiosos são julgadas como se aquele carro fosse de seu marido ou de seu companheiro. “É como se hoje, com toda independência e autonomia ainda assim as mulheres não são vistas como empoderadas a ponto de poder comprar seu próprio carro e ou de ter um carro muito valorizado socialmente. Ainda existem as violências e assédios, onde as mulheres são mais vulneráveis: o direito de andar nas ruas livremente sem ser violentada ou assediada, por exemplo”, argumenta a especialista.
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O TEMA
“A sociedade como um todo se beneficia com a conscientização sobre um trânsito mais igualitário e mais seguro para as mulheres, uma vez que é inegável que elas estão ocupando muitos espaços importantes na atualidade. As mulheres hoje contribuem significativamente para a economia, para e educação, para saúde, para a ciência, para a tecnologia, por exemplo. No mundo atual, a força feminina é motriz. Isso não significa inferiorizar os homens, ao contrário, significa a possibilidade de termos uma sociedade mais igualitária, onde homens e mulheres possam decidir, opinar, gerir. Assim, os homens podem contribuir se dispondo a refletir sobre assuntos como novas formas de masculinidade, combate à violência de gênero e se unir à essas causas sendo protagonistas no combate ao machismo”, sugere.
Por fim, a docente aponta que em 2009, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) apresentou à categoria e à sociedade o documento Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) em políticas públicas de mobilidade humana e trânsito, elaborado no âmbito do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), reafirmando o compromisso da categoria com os Direitos Humanos nos processos de mobilidade.
“Outros documentos que refletem sobre questões de gênero e combate às violências também vêm sendo produzidos e divulgados como forma de estimular novos olhares e uma sociedade mais harmônica e justa para todos. Dessa forma, a Psicologia se dispõe a cumprir seu valor social pensando na coletividade como extremamente importante para a saúde e qualidade de vida de seus integrantes”, explica.