Responsável por 70% da produção de arroz do Brasil, o Rio Grande do Sul viu sua safra da commodity se perder em meio às fortes chuvas dos últimos dias. A situação já começou a afetar outros estados consumidores do cereal e, no Ceará, a alta do quilo no atacado já chega a 9,8% em um mês, segundo Odálio Girão, analisa de mercado das Centrais de Abastecimento do Ceará S/A.
O quilo do produto passou de R$ 5,75 em abril para R$ 6,40 em média, nesta quinta-feira (9), cerca de duas semanas após o início da tragédia. A situação em território gaúcho, com a previsão de continuidade dos temporais, deve seguir pressionando os preços no Ceará. “O nosso atacadista tem a sua reserva, mas não se sabe até quando ela vai durar porque o arroz é muito presente no dia do brasileiro”, diz Girão.
A instabilidade no preço do arroz se deve especialmente ao impacto das chuvas nos principais municípios produtores no Rio Grande do Sul: Dona Francisca, Itaqui, Santa Vitória das Palmas e São Borja. As cidades em questão tiveram toda a safra perdida. “Ficou impossível de colher. Na falta do arroz, vamos ter que importar para equilibrar”, pondera o analista de mercado.
PREÇOS E LIMITE DE COMPRA
Na última quarta-feira (8), o Diário do Nordeste noticiou que o Atacadão Lag, localizado no bairro Mondubim, estava limitando a compra do produto da marca Tio Manoel a cinco unidades por CPF sob a justificativa de risco de desabastecimento.
Apesar do aviso de restrição do Lag, retirado na manhã desta quinta (9), conforme constatou a reportagem, os supermercados e outros atacarejos não estão limitando a compra do produto. Na Ceasa, entretanto, há relatos de atacadistas sobre fornecedores que estão limitando a compra do arroz, segundo Odálio Girão.
Ontem, o presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, disse que o abastecimento está normal no Estado e que o produto já vinha com tendência de alta no preço antes da tragédia no Sul.
A reportagem percorreu diversos estabelecimentos nesta quinta-feira, entre supermercados e atacarejos de Fortaleza, e encontrou preços que vão até R$ 8,29 o quilo do arroz. À coluna, uma consumidora relatou que sentiu elevação nos preços do produto na última semana.
TEMPORAIS PODEM AFETAR OUTROS PRODUTOS
Além do arroz, o Rio Grande do Sul é um importante produtor de carne, milho e soja. Odálio explica que o milho produzido na região é utilizado para abastecer o rebanho no Sul, que envia a carne para o restante do País. “Isso pode afetar os preços dos embutidos”, avalia ele.
A tragédia climática no Rio Grande do Sul já provocou 107 mortes até a manhã desta quinta-feira (9). Outras 136 pessoas estão desaparecidas.