Morreu, nesta segunda-feira (4), em São Paulo, aos 87 anos, o cardeal Dom Cláudio Hummes.
A cripta da Sé foi preparada para receber o corpo de Dom Cláudio Hummes, e sob o altar da Catedral onde fez história, entre bispos, arcebispos e símbolos sagrados da religião, termina a vida de um homem que vai ser lembrado pela missão que escolheu. De jovem frei franciscano ao cardeal que sentou ao lado do futuro novo Papa no conclave, sem perder a oportunidade de dizer: “Não esqueça dos pobres”. A mensagem foi uma inspiração.
“Aquelas palavras entraram na minha cabeça. Os pobres, os pobres. Depois, imediatamente pensei: ‘São Francisco de Assis'”, conta o Papa Francisco.
Quem conhecia a solidariedade de Dom Cláudio, não esquecia. “Ele me chamou e disse: ‘Dom Cláudio, venha você também, fique comigo também nesse momento’. Mas foi, assim, uma surpresa muito grande. Foi um gesto espontâneo dele”, contou Dom Cláudio em 2013.
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Dom Cláudio nasceu Aury Affonso Hummes, no Rio Grande do Sul, em 8 de agosto de 1934. Aos 17 anos, já era frei pela Ordem Franciscana dos Frades Menores, e aos 24 foi ordenado padre.
Em Roma, fez doutorado em Filosofia, conhecimento que adiante como professor universitário, já de volta ao Brasil. Em 1975, foi nomeado bispo de Santo André; em 1996, arcebispo de Fortaleza; e dois anos depois assumiu a maior arquidiocese do país: São Paulo.
“Assumiu, digamos, toda a envergadura do trabalho que significa a Arquidiocese de São Paulo. Ele iniciou algo aqui que a gente não esquece, que é o seminário da caridade, justamente para levantar no âmbito da Arquidiocese de são Paulo todas as iniciativas existentes para o serviço social”, afirma o cardeal Odilo Pedro Scherer.
Chegou ao alto posto de cardeal em 2001, nomeado pelo papa João Paulo II, e foi cotado para substituí-lo conclave de 2005, mas o eleito acabou sendo o cardeal alemão Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI. A convite dele, Dom Cláudio se tornou prefeito da Congregação para o Clero no Vaticano.
Uma de suas funções era a formação dos novos sacerdotes. Na época, a igreja vivia uma crise com as denúncias de abusos sexuais. Ficou no cargo até o fim de 2010.
O cardeal deixa a memória de um homem de fé, não só no sentido religioso da palavra, mas porque acreditava que era possível mudar a sociedade. A igreja de Dom Cláudio Hummes ficava do lado de fora, onde estão os desempregados, os famintos, os oprimidos, os mais vulneráveis.
Quando o país vivia a ditadura militar, à frente da diocese de Santo André, o bispo acolheu operários grevistas dentro da igreja. “Acho que é importante a igreja estar presente no meio desse povo que luta por maior liberdade”, afirmou Dom Cláudio.
“O legado que Dom Cláudio deixa é o ser humano. Nós somos seres humanos, nós não podemos nos conformar com tanta injustiça”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges.
A última grande causa de Dom Cláudio foi a proteção dos povos indígenas e da floresta. Na última década, foi presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, e foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia. “O contexto amplo do sínodo é a grave e urgente crise socioambiental. A crise climática e a crescente crise social.”
O câncer parou Dom Cláudio ainda com tanto a fazer, mas a mensagem de amar quem mais precisa não morre com ele. “Todo meu carinho e meu amor para esse Brasil e para essa São Paulo.”
G1